2015/07/11

私の名前はしずかです!Oi, eu sou a Shizuka! ^◕ฺω◕ฺ^



Eu sei que ainda tenho muitas coisas para compartilhar no blog e peço as mais sinceras desculpas pela enorme ausência, mas se eu não escrevesse uma bíblia um pouquinho sobre a mais nova membro da família, muitas postagens ficariam sem nexo daqui em diante. Quem nos segue no Twitter ou no Instagram já a conhece há um tempão, mas seria uma grande mancada falta de consideração não apresentá-la aos leitores do blog. Portanto, prepare-se para o testamento! ψ(`∇´)ψ

A Shizuka é a nossa filha de quatro patas de exatos 10 meses e 7.2 kg. Ela nasceu dia 11 de Setembro de 2014, em Fukuoka, província ao sul do Japão, e é da raça Spitz Japonês. Ela parece uma raposa do ártico e as crianças sempre a chamam de "otousan", nome do famoso Shiba Inu branco dos comerciais da operadora de celular SoftBank. Apesar de não ter nada a ver com o "otousan", ambos pertencem ao gênero spitz, que se caracteriza pela cauda enrolada acima do dorso, orelhas triangulares e carinha de raposa. ^◕ฺω◕ฺ^

Foi difícil decidir a raça que devíamos adotar. Preferimos cães maiores, mas criar um pastor alemão dentro de um apartamento de 40m² estava fora de cogitação. Por isso, ficamos em dúvida entre o Lulu da Pomerânia, o Shiba Inu e o Welsh Corgi Pembroke, nossas raças médias favoritas. Desde que me conheço por gente amo o Pomerânia, sempre sonhei em ter um. Aqui no Japão é uma raça bem comum. Shibas e Corgis também são vistos com muita frequência e são umas gracinhas. Já o Spitz é um pouco mais raro. E justamente por isso comecei a me interessar por ele e lembrei que quando era criança via fotos da raça em livros e achava um cachorro muito fofo, mas nunca havia visto nenhum no Brasil. O Spitz é muito parecido com o Pomerânia, só que maior. Parece até uma versão mini do Samoieda, outra raça que sempre amei. Quando chegamos em Tokorozawa, vez ou outra víamos um Spitz passeando na vizinhança. Era lindo, branquinho, bem peludo, perfeito, parecia cachorro de exposição. Não deu outra e me apaixonei. Comecei a pesquisar tudo sobre o Spitz Japonês e decidi que era esse cachorro que eu queria. (*♥ω♥*)

Família reunida! ^^







A Shizuka é um sonho realizado! Eu sempre quis ter um cachorro criado dentro de casa, algo que meus pais nunca permitiram enquanto eu vivia sob seu teto. Achava o máximo a ideia de poder dormir com o cachorro, assistir TV com ele, dar bronca quando ele roesse algum sapato, enfim, dividir tudo o que faço entre quatro paredes com uma criatura fofa de quatro patas, como se fosse um membro da família. Como não sou uma pessoa muito asseada e maníaca por ordem e limpeza, nunca liguei para pelos por todo o lugar, nem ter que ficar catando cocô e xixi pela casa, então ter um cachorro dentro de casa não me deixaria incomodada ou com nojo.  (●´∀`●)

Morria de inveja das minhas amigas e primas que podiam ter seus "filhos" ao pé da cama e ficava com raiva delas por não darem a devida importância a eles. Como eram sortudas! Tive duas pastoras alemãs no Brasil, aliás, uma delas, a Isis, é uma linda e saudável senhora de 11 anos, e pude matar as saudades dela quando visitei minha família no ano passado. Mas ter um cão dentro de casa é uma outra dimensão! (人´∀`*)

Nós no parque da aviação de Tokorozawa!


Apesar dos japoneses amarem animais, é muito difícil encontrar um apartamento para alugar que os aceitem. É por isso que os nekos cafés fazem tanto sucesso por aqui! A maioria dos apartamentos não permite criar nem peixes, nem hamsters, muito menos cães. Alguns só aceitam gatos, mas não aceitam cães, seja pelo barulho ou pelos prejuízos que podem fazer à estrutura. E os apartamentos que permitem a criação de cães e gatos geralmente são mais caros e/ou possuem taxas extras exorbitantes equivalentes a um, dois ou três meses de aluguel. É a máfia dos neko cafés falando mais alto!  ψ(`∇´)ψ

Desde que estamos no Japão pensamos em ter um cachorrinho. Mas nosso medo era adotar um e sermos obrigados a abandoná-lo por não encontrar um apartamento que o aceitasse, em caso de uma mudança urgente. Ficava apreensiva pois já vi pessoas próximas serem "obrigadas" a fazer isso, apesar de não concordar com essa atitude nem em casos extremos. Animal de estimação é família, e família não se abandona na rua ou em um abrigo. Para tudo se dá um jeito, é só querer. Mas, enfim... a ideia de abandonar a Shizuka me dá até mal estar, de tanto que já amo essa cadelinha. |||||/( ̄ロ ̄;)\|||||||

Como nossos objetivos de vida mudaram, temos um trabalho relativamente estável e cada vez mais certeza de que ficaremos no Japão, não temos mais esse medo pelo simples fato de saber que manteríamos nossa Shizuka até se precisássemos morar embaixo de uma ponte ou, na pior das hipóteses, ter que voltar para o Brasil (rezando para que isso jamais aconteça!). E em breve pretendemos comprar uma casa própria no arquipélago, o que aumenta ainda mais nossas chances de ficar com a nossa filha.  ♥ (*´艸`) ♥

E assim começou nossa jornada em busca de um apartamento que aceitasse cães. Consultamos diversos sites durante 3 meses, como o Homes e o Sumo, mas por fim acabamos assinando contrato com a mesma imobiliária que já estávamos alugando, a Housecom. Nós queríamos um apartamento no mínimo 2LDK (dois quartos, uma sala e cozinha), em Tokorozawa, construído há menos de 10 anos (pois o Igor tem asma e não se sente bem em ambientes mofados) e que o aluguel não passasse de ¥80 mil. Parece muito fácil, não? Quem dera...  ♪

Na busca, surgem 114 resultados que satisfazem os requisitos mínimos. Mas, ao assinalar a opção ペット相談 (petto soudan = animais de estimação sob consulta), o número cai para meros 25 resultados! Desses 25, apenas 12 ficam no bairro em que preferimos e possuem estacionamento próprio. E desses 12, arrisco que apenas 5 aceitem cães, pois a maioria dos anúncios que escrevem "animais de estimação sob consulta" aceitam apenas gatos ou outros animais menores. Ou seja, entre os 5 finalistas, a escolha foi feita por eliminatórias mais minuciosas ainda: qual era mais novo, qual era mais barato, qual era mais bonito, qual tinha supermercado e loja de conveniência nas proximidades, qual era maior, qual era mais perto da estação e qual aceitava mais animais. E foi assim que chegamos ao nosso apartamento 2LDK, aluguel de ¥80 mil mensais, a 40 minutos do nosso local de trabalho, 30 minutos da estação de trem, 8 minutos do ponto de ônibus, 2 minutos de carro do supermercado e que aceita até 2 animais por residência. Ufa! (((╹д╹;)))

Tivemos que guardar dinheiro e ficar totalmente zerados depois da mudança, mas quem se importa? Nós temos a nossa tão sonhada companheira barulhenta e peluda! O aluguel é mais caro e levamos o triplo do tempo para chegar ao trabalho, mas o prédio é mais novo (foi construído há apenas 3 anos, ou seja, nada de mofo ou "cheiros suspeitos"!) e é todinho voltado a criadores de animais. Há portinholas nas portas, lava-patas na entrada, chão emborrachado para não escorregar, tomadas altas, escadinhas para gatos na parede (que nós transformamos em estante de livros), portãozinho na escada e, no futuro, até planejam construir um dog run para os inquilinos poderem desfrutar de momentos com os cães sem coleira e em total segurança, ao ar livre. Simplesmente perfeito! Era tudo o que queríamos! \ (^ - ^) /

O apato!


Na hora de assinar o contrato, pagamos um aluguel adiantado, a taxa da imobiliária, o seguro obrigatório contra incêndio e o 敷金 (shikikin), que nada mais é do que um depósito de segurança usado para reformar o apartamento quando o inquilino se muda. No nosso caso, essa taxa equivalia a dois meses de aluguel e pode ou não ser devolvida parcialmente ao nos mudar. A conta deu um pouco mais de ¥300 mil, paga à vista. Uma facada, eu sei, mas entre todos os apartamentos na região que olhamos, esse era o melhor custo benefício, acredite. Por ser vizinha de Tokyo, Tokorozawa não é uma cidade muito barata para se viver. Lembrando que tudo foi feito em japonês e, mesmo não dominando a língua, conseguimos nos virar muito bem sem qualquer ajuda de tradutores. Vale ressaltar também que não temos visto permanente ainda e meu visto de 3 anos estava prestes a expirar na época, o que não impediu que o contrato fosse assinado. (ノ◕ヮ◕)ノ

Fizemos diversos orçamentos com empresas especializadas em mudança. O valor cobrado varia de acordo com a quantidade de mobílias e caixas. Os preços eram exorbitantes, alguns beiravam ¥60 mil! As empresas fornecem caixas de papelão e até um serviço que te ajuda a embalar cada objeto da casa. Como não precisamos de todo esse luxo e conseguimos caixas usadas no serviço, decidimos contratar um brasileiro de Gunma que cobrou apenas ¥20 mil e ainda levou alguns móveis antigos para serem reciclados. Aqui no Japão é preciso pagar uma taxa para se desfazer de itens como sofá, sapateiras ou estantes, então o valor cobrado por ele saiu uma verdadeira pechincha. (゚∀゚≡゚∀゚)

E, então, ela chegou! *___________________*

Nem parece que ela veio nessa caixinha minúscula! ♥

Shizuka com 3 meses!

Loba ou raposa? Ou urso polar?


Tão pequena...

Tão angelical...

Toda arrepiadinha!

Dá para resistir?  ♥ (*´艸`) ♥

A Shizuka, ou melhor, a Grace Charme Ririka, tem pedigree e tudo! É mimada sim ou claro?! XD


Shizuka chegou no dia 13 de dezembro de 2014, com 3 meses de idade. Uma bolinha de pelos, uma raposinha branca felpuda. O nome surgiu um dia depois de sua chegada em casa. Shizuka significa quieta, serena, tranquila, silenciosa, em japonês. Eu tive um sonho no qual a chamava de Shizuka e, por ela ser tão quietinha e tímida, caiu como uma luva. Isso até ela crescer e virar a capetinha que é! Mas hoje prefiro explicar que seu nome surgiu da nossa expectativa dela incorporar, de fato, a personalidade shizuka algum dia. A esperança é a última que morre! (*ノω<*)

Lembrando que o nome dela é pronunciado SHÍzuka com o "shí" forte, e não shiZÚka com o "zú" forte, como 99% dos estrangeiros pronunciam! É a mesma regra do "kappuru" do nosso nome, com o "ká" forte e pausado. Bora aprender japonês, pessoal... bitch, please il||li(つд-。)il||li

Shizuka aos 3 meses e aos 9 meses! Como cresce rápido! O_O

A raposinha cresceu! XD

Aos 3 meses e aos 8 meses!

Com um de seus brinquedos favoritos! (๑´ლ`๑)♥

O primeiro banho a gente nunca esquece! "Pareço um chihuahua..." TT________TT


Com uma linda 梅 (ume = ameixeira)! ヽ(o・∀・)ノ。゚*゚o。゚o゚。*゚。


No Japão, ao adotar um cão ou gato, é obrigatório registrar o animal na prefeitura local dentro de 30 dias. Ao ser registrado, o dono recebe uma plaquinha super fofa com o número de registro para ser colocada na coleira do animal, o que torna mais fácil o retorno dele no caso de se perder ou fugir. O registro custa ¥3 mil e dura pelo resto da vida dele, mas não sei se o valor muda de uma prefeitura para outra. É obrigatório também vacinar o cão contra a raiva todos os anos. A vacina custa em média ¥2700 e deve ser registrada na prefeitura anualmente. Sim, é bem "mendokusai" fazer tudo isso, mas é por isso que não se vê cães abandonados nas ruas ou cães babando de raiva por aí. ┐( ̄ヘ ̄)┌

Plaquinhas da vacina da raiva e do registro na prefeitura de Tokorozawa penduradas na coleira de passeio.

Ao registrar o cãozinho na prefeitura, eles te dão esse monte de tranqueira panfletos, papéis para catar cocô e plaquinhas! Só no Japão mesmo! *______*




Prefiro a Shizuka "ao natural", mas, fala sério, também fica muito fofucha assim! *_______*

O arsenal da Shizuka! XD
A Shizuka só come da melhor ração do mundo, Orijen, importada do Canadá. Ela ama comer qualquer coisa, menos a ração, hahaha. Mas como qualquer cachorro, ama queijo, frango e qualquer petisco.


Como somos ばか親 (bakaoya = algo como "pais coruja"), fiz camisetas personalizadas da Shizuka no site do UTme, da Uniqlo. Inclusive, as camisetas estão à venda nesse site.


A Shizuka é nossa dondoquinha. Já roeu os rodapés, cavou não só um, mas DOIS buracos na parede, já comeu um pedaço do chão da sala e destruiu a própria cama (e tenta a todo custo dar umas mordidas na nova cama king size dela). Fez xixi no tapete novo várias vezes e até em nosso futon. A Shizuka foi castrada com 7 meses e seu comportamento não foi alterado nem 1% (doce ilusão...). Em época de troca de pelagem, eu sinto vontade de me matar com um tiro na cabeça, pois definitivamente não nasci para aspirar a casa todo santo dia. As bolas de pelo rolam pela casa como se fossem aquelas bolas de feno que rolam no deserto em filmes de velho oeste - sem demagogia nenhuma. Apesar de toda capetice, ela aprendeu rapidamente a fazer xixi no lugar certo e sempre sabe quando faz coisa errada. Ela sabe sentar, deitar, dar as duas patas e até um "high-five", seja com comandos gestuais ou verbais - tudo em japonês, afinal, ela é japonesa. Sabe esperar até receber o comando para comer ou beber água. Faz a maior festa quando chegamos em casa e ama pessoas, principalmente velhinhos, "pois eles me dão carinho e petiscos na rua". É uma "person dog" e não fica à vontade perto de outros cachorros, principalmente os hiperativos e barulhentos. No dog run do parque de Tokorozawa, ela atrai a atenção de todos. (✿◠‿◠)

"Ainda bem que você chegou! Um tufão passou por aqui e rasgou os seus papéis importantes!"


"Eita, o que fizeram aqui?! Não fui eu, não!"




Nós não sabemos mais o que é viver em silêncio, nem dormir até tarde sem hora para acordar, nem como é ter uma conta bancária recheada, nem ter roupas e meias sem furos e, acima de tudo, não temos mais esperança de conseguir o nosso shikikin de volta, mas temos certeza que não poderíamos estar mais felizes. A Shizuka chegou e roubou nossos corações, nossos bolsos e nossa paz, mas jamais a trocaríamos por uns trocados a mais ou por uma casa limpa e arrumada. Afinal de contas, é simplesmente impossível dar bronca numa carinha pidona dessas! (*≧ლ≦)

"Não sou um brinquedo! Sou um pit bull!" Ψ(`∀´#)


Para encerrar, algumas fotos atuais da nossa branquinha! ^^

No dogrun do parque da aviação de Tokorozawa.

Com as 紫陽花 (ajisai = hortênsias) em um caminho perto de casa.

Após uma boa escovação, uma outra Shizuka nasceu. É um Gremlin!

Com as margaridas em um dia fresco de verão!

Com os amigos em uma de nossas "festas do pijama" no quarto.

Ela adora roer ossos!

Essa carinha...

Ela fica linda após tomar banho no salão!

No verão ela fica assim o dia inteirinho!

Shizuka combina tão bem com sakura! *o*


Aguardem por muitas postagens da Shizuka por aqui! Aliás, quem reparou nela no topo do blog? ^o^

2014/11/05

Novo projeto! ♪ ☆




Amigos, followers, leitores, fãs, familiares e gente que nem sabe o meu nome!

Eu,  Beta Matsuoka, tenho o prazer de informar a todos vocês que estou de volta à ativa. Após dois anos longe daquilo que mais gosto de fazer - escrever -, recebi uma proposta que não poderia recusar. Sim, é isso mesmo: estou de volta ao grupo IPC World, afiliada da Rede Globo no Japão, agora trazendo as últimas notícias para a comunidade em tempo real.

Dessa vez, vocês poderão acompanhar o meu trabalho de qualquer lugar do mundo. O site da IPC mudou e se transformou no maior portal dos brasileiros no Japão.

Ainda estou engatinhando nessa "modernidade" toda do Wordpress, e assim vou aprendendo um pouquinho por dia. Estou empolgadíssima com esse novo projeto e espero que vocês também embarquem nessa aventura. Lembrando que sou toda ouvidos a quaisquer reclamações, sugestões e elogios. Sua opinião é de extrema importância!

Conto com a colaboração de todos vocês! 

Muito obrigada pelo carinho hoje e sempre. 

Yoroshiku onegaishimasu! ♪(゚▽^*)ノ⌒☆

2014/10/05

Eleições do outro lado do mundo


O texto a seguir não será bonitinho, fofinho e kawaii como (quase) tudo que posto nesse blog. Não vou falar do Japão, diretamente. Não estranhe, o blog não foi hackeado, basta ler meus últimos textos do Twitter. Se não estiver interessado em ler o artigo de uma brasileira revoltada com o voto obrigatório e que mora no Japão, não leia. Não se preocupe: você não vai deixar de renovar seu passaporte se não ler essa postagem. Tenha um bom dia! ^o^


Como todos sabem, hoje é dia 5 de outubro, dia das eleições presidenciais no Brasil. Por estarmos 12 horas à frente, aqui a manipulação eleição já começou. Muita gente acha que brasileiro que não mora no Brasil é sortudo pois está isento de votar. Doce ilusão! Como meros mortais, somos sim obrigados a votar, mas, por "sorte", só para o cargo de presidente. Mas isso é bom demais para ser verdade, não é? É. Nossa alegria acaba por aí. Não pense que por estarmos no Japão, em um país de primeiro mundo, que a coisa é diferente, pois ainda temos as mesmas obrigações que teríamos se estivéssemos morando aí. O Japão não tem nada a ver com isso, no mundo inteiro é assim.

Você sai do Brasil, mas o Brasil não sai de você. Ele te persegue até do outro lado do mundo, não adianta se esconder nas vilas geladas de Hokkaido, no cume do Monte Fuji ou nas dunas de Tottori. Sempre há um consulado brasileiro para te manter na coleira. A diferença é que, estando a 19.000 km de distância da pátria, a coleira é só um pouquinho mais frouxa, mas isso não significa que você será poupado das chibatadas. 

Se já é sacanagem o voto obrigatório, imagine só o que é obrigar brasileiro no exterior a votar. Uns chamam isso de dever cívico, eu chamo de ditadura. Não vejo diferença entre me obrigar a votar e ter uma arma apontada para a cabeça.

Estou há cinco anos no Japão e não tenho a mínima intenção de voltar a morar no Brasil. Mas nada disso importa para a justiça eleitoral, pois mesmo assim tive que perder DOIS DIAS de serviço para RENOVAR E BUSCAR meu título de eleitor, que, adivinhe só, foi cancelado porque não votei nas últimas eleições. E só o fiz para renovar meu passaporte, cuja data de validade calhava com a da minha viagem ao Brasil (em breve, postagem sobre minha primeira ida ao Brasil após cinco anos de Japão).

Se é para perder tempo no consulado daqui ou no cartório eleitoral no Brasil, então é melhor resolver essa encrenca de uma vez por todas. Afinal, eu só ficaria duas semanas no Brasil, o tempo era curto demais para ser perdido com algo tão fútil. Então, para evitar possíveis dores de cabeça, antes de viajar, resolvi acertar minhas pendências com a justiça eleitoral, afinal, não queria arriscar meu precioso passaporte e ser deportada para o Brasil. Voltar para a terrinha seria o meu maior pesadelo! Portanto, não se iluda, Brasil, só estou fazendo isso pelo meu amor ao Japão e pela minha vontade de continuar bem longe de você.

Mas o que o nosso querido país não entende é: todo mundo vem para o Japão para TRABALHAR. Aqui não tem oba oba, não tem "jeitinho brasileiro", não tem desculpa para faltar no trabalho. Aqui é trabalho em primeiro lugar e todo o resto em segundo.

Como vou explicar para o meu chefe japonês que no Brasil o voto é obrigatório e que se eu não regularizar minha situação eleitoral, fico sem passaporte e, consequentemente, sem visto?

E quem vai convencer o meu chefe japonês a não cortar meu zangyo (hora-extra) porque faltei dois dias no serviço para acertar minhas pendências com a justiça eleitoral no consulado de Tokyo que só abre de segunda à sexta das 9 às 13h (com exceção dos feriados japoneses E feriados brasileiros E os dias que as belezinhas simplesmente resolvem NÃO abrir, como o dia seguinte à eleição)?

Se já é ridículo ter o título cancelado por não ter votado (olha só como o meu voto é importante!) e ter que perder um dia inteiro para renová-lo, ter que ir buscar pessoalmente um papel impresso em sulfite que nem se dão ao trabalho de plastificar ou oferecer uma capa de plástico para protegê-lo, o que é? Devem achar que no Japão não existe correio. Simplesmente um absurdo!

Hoje, se não fosse pelo tufão, talvez eu estivesse perdendo meu tempo em uma fila quilométrica ao redor do Consulado Geral do Brasil em Tokyo. E só o estaria fazendo por causa de terrorismo: ou vota ou não renova o passaporte. Ou renova, mas fica com uma anotação bem simpática no passaporte que diz para regularizar quando chegar ao Brasil. Se eu não tivesse viagem marcada para o Brasil, a segunda opção seria a minha escolha.

Mas, antes de cair na besteira de acordar cedo num domingo, ir até o consulado, pegar uma fila monstruosa, ser atendido por um poço de simpatia importado diretamente da terrinha, digitar 00 e apertar "confirmar", respirei fundo e li no site do próprio consulado a respeito da justificativa. Basta preencher um formulário e enviá-lo pelo correio. Pronto. Sem fila, sem drama, sem encheção de saco, sem arriscar a vida de ninguém. Pretendo fazer o mesmo no segundo turno. Porque simplesmente não vale a pena gastar ¥600 com passagem de trem para ir até o consulado, em vão.

Ainda tenho sorte (ou azar?) de folgar aos domingos e morar a 40 minutos do consulado de Tokyo, mas fico pensando nos coitados (ou sortudos?) que moram em Okinawa ou Hokkaido. Já que o voto é tão importante assim, o consulado banca a passagem aérea de ida e volta? E aqueles que nasceram aqui, não falam português, nunca foram ao Brasil e não sabem nem quem são os candidatos? O voto dessas pessoas não poderia, na verdade, prejudicar a eleição? Assim como meu voto prejudicaria, pois não moro mais no Brasil e não tenho o mínimo de conhecimento sobre a realidade atual do país. Hoje eu sou estrangeira no meu próprio país. Eu nem deveria opinar sobre nada!

Fazem tanta campanha de voto consciente, mas a verdade é que eu não dou a mínima para o que está acontecendo na política brasileira. Acredito que 90% de quem está fora do Brasil também não acompanha as notícias de lá, simplesmente porque não temos intenção alguma de voltar ao país. Então, como votar "consciente" nesses casos? Pior: se nenhum candidato me representa, por que eu deveria ser obrigada a exercer minha cidadania? Minha única dúvida na hora de apertar o botão verde é: voto no Monteiro Lobato ou na Elis Regina? Ou existe algum candidato que promete acabar com o voto obrigatório? Voto com o maior prazer! Enquanto isso, vou continuar justificando ou votando no 00, o candidato mais honesto de todos. Porque eu simplesmente cansei e não acredito nessa tal de democracia brasileira. O jeito é fugir e ser feliz morando do outro lado do mundo, mesmo que isso signifique ficar longe da família e dos amigos.

Li esses dias que o número de eleitores no exterior subiu 77% nos últimos anos. Falam isso de boca cheia, batendo no peito, como se os brasileiros estivessem super empolgados para votar. "Oba, oba! Vamos lá acordar cedo num domingo e ter nosso voto manipulado por uma maquininha!". A única verdade é que ninguém se importa, todo mundo só quer renovar o passaporte para continuar bem longe do Brasil. Democracia terrorista, a gente vê por aqui.

E ainda me perguntam por que não quero voltar para o Brasil e por que gosto tanto do Japão. Preciso dar mais motivos? É só ler meu blog de cabo a rabo e comparar com o Brasil. Sem mais.


E com essa postagem, aproveito para dizer que em breve o blog voltará de seu segundo hiatus do ano. Aguarde!


2014/05/16

✿ Sakura vs. Ume ✿




A (sakura = cerejeira) dispensa apresentações. Alguns gostam, outros idolatram, e ainda há quem não veja a mínima graça, mas todo mundo a conhece. Exaustivamente associada à cultura japonesa, a flor de cerejeira é, de longe, o maior símbolo do arquipélago nipônico. Mas sua prima (ume = ameixeira), que é tão bela e encantadora quanto, até hoje não recebeu o valor merecido. Pelo contrário, ela só se ferra! Imagine só como é a vida ingrata da coitadinha. Para começar, suas flores nascem no inverno, quando ninguém quer saber de sair da toca, muito menos para fazer piquenique sob suas flores semi-congeladas. Isso quando ela não é confundida com a prima popstar. "Ué, sakura no inverno?" é o que ela mais ouve por aí... isso, ou "nossa, que sakura pelada!". Não deve ser nada fácil viver à sombra de um parente famoso. E, como se não bastasse, as ameixeiras ficam doentes. E nem adianta enchê-las de remédios, deixá-las de repouso e aguardar por um milagre... não! As pobres ameixeiras são cruelmente serradas ao meio e queimadas para o vírus não se espalhar com tanta facilidade. (இдஇ; )

Ume: uma beleza em vão... _| ̄|○

Mas nem tudo está perdido! Há quem se encante mais com as ameixeiras do que com as cerejeiras. É uma questão de gosto e também de comparação de fatos. Afinal, as ameixeiras superam as cerejeiras em pelo menos três aspectos: suas flores duram mais tempo, são mais cheirosas e dão frutos. Enquanto a espécie de sakura mais popular é infértil, quase não tem cheiro e suas flores duram uma ou duas semanas no máximo, algumas espécies de ameixeiras dão o fruto que confecciona o 梅干 (umeboshi = ameixa em conserva), suas flores duram quase um mês firmes e fortes no alto das copas e ainda exalam um perfuminho delicioso! (人´∀`*)

Tão diferentes e, ao mesmo tempo, tão semelhantes. O inverno vai chegando ao fim, as flores começam a nascer e a pergunta que não quer calar permanece por toda a estação: é pavê ou pacomê sakura ou ume? (⌒_⌒;)

A maioria das pessoas não sabe diferenciar cerejeiras de ameixeiras. Realmente, não é uma tarefa fácil. É preciso observá-las com muita atenção para notar as sutis diferenças entre elas. E, mesmo assim, ainda dá para confundir de vez em quando... ヽ(゚Д゚)ノ

Antes de mostrar nosso hanami deste ano, é fundamental esclarecer alguns pontos entre essas duas lindas! (*♥ω♥*)

Para não ter mais dúvidas e não pagar mico tatuando uma ameixeira em vez de uma cerejeira nas costas, acompanhe as dicas do Iwata Kappuru, que não é especialista, mas é fã de carteirinha da primavera nipônica! (人´∀`*)♥



 SAKURA VS. UME 



Esquerda: sakura (cerejeira). Direita: ume (ameixeira).


As pétalas da sakura são ovais, e tem um "corte" na extremidade.
A pétala da ume é redondinha e sem cortes.


As cerejeiras têm pistilos curtos e em menor quantidade
Os pistilos das ameixeiras são compridos e em maior número.



Espécies de sakura.


Espécies de ume.


As flores de sakura têm um tom rosa pálido característico, quase branco. No máximo, um rosa shocking.

A ume é multi-colorida, em geral apresenta-se em tons mais fortes e vibrantes, mas também existem ameixeiras brancas, rosa pálidas, rosas, rosas-shocking, lilás etc. Se você por acaso vir uma "sakura amarela", definitivamente não é uma sakura, e sim uma linda ume!



Sakura.

Vistas de longe, as cerejeiras sempre chamam a atenção logo de cara. É amor à primeira vista. Elas aparentam ser mais diversificadas. A 染井吉野 (Somei Yoshino) é a espécie mais popular, sendo encontrada em qualquer esquina do Japão. A 枝垂桜 (Shidarezakura) é muito apreciada por seus galhos caídos, daí o nome "cerejeira chorona" (em tradução livre e tosca, hahaha). Mas há muitas outras espécies por aí que eu ainda não aprendi o nome... ( ●≧艸≦)


As ameixeiras são mais "normais", parecidas umas com as outras... bom, pelo menos nunca vi uma muito exótica! ・゚(゚⊃ω⊂゚)゚・ 



Troncos de cerejeiras


O tronco da sakura possui várias linhas horizontais, o que a torna bastante peculiar. Até no verão dá para distingui-la das demais árvores. 


O tronco da ume é... normal. Tanto é que não tenho foto de nenhum... m(_ _)m



Sakura vs. Ume


Galho de sakura vs. galho de ume


Cerejeiras são mais "cheias" do que as ameixeiras. Isso acontece porque em um mesmo galho nascem várias sakurinhas. Elas parecem "grudadas" umas nas outras, dando aquele aspecto de pipoca! Gorda só pensa em comida



As folhas da ume são arroxeadas, mas também podem ser verdes.
Da cerejeira, são sempre verdinhas e começam a aparecer tão logo quanto as flores.



As cerejeiras quase não têm cheiro.
Já as ameixeiras são suuuuuuuuper cheirosinhas!



Mas o fator crucial para diferenciar uma da outra é o tempo da floração!
As ameixeiras dão flores entre o fim de fevereiro e o fim de março e duram quase um mês.
Já as cerejeiras começam a florir no fim de março e no início de abril já começam a cair. Com exceção das ilhas de Okinawa, onde as cerejeiras nascem em janeiro, e de Hokkaido, onde elas só dão o ar da graça em maio!



Como falei, as duas são bem parecidas e ambas são lindíssimas. Mas a sakura ganhou toda essa fama graças ao seu simbolismo. A brevidade de sua vida é o que a torna tão especial e única. Sim, podemos observar as ameixeiras por quase um mês, mas a cerejeira só dura uma ou duas semanas, tendo em média três dias de 満開 (mankai = plena floração, o ápice da floração. O melhor momento para vê-las é quando as flores ainda não começaram a cair e ainda não há folhas)... portanto, vamos aproveitá-las ao máximo! Justamente pelo fato delas serem frágeis e mesmo assim vencerem o inverno rigoroso é o que dá todo o charme a essas florzinhas. A cerejeira não traz somente beleza e encanto aos nossos olhos, e sim uma mensagem aos nossos corações: a de que devemos aproveitar todos os momentos como se fossem os últimos, pois a vida é breve e nunca saberemos quando será o nosso último dia. Hanami é mais do que um costume tipicamente japonês, é uma filosofia de vida. Deixe a sua alma sentir o aroma da primavera japonesa! (๑´▿`๑)♫•*¨*•.¸¸♪